a hora de se retirar

Isabela Jayme
2 min readAug 15, 2021

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Os finais mais difíceis são aqueles não anunciados. Sem quebras, acertos de contas, rupturas, cartas de despedida. Sem hora nem data riscada no calendário. Aqueles que só se compreendem depois de um tempo que passou. Ah, então era aquele o começo do fim! Fim que começa nunca para de acabar.

Mas e quando não temos a distância do tempo? Quando não enxergamos com nitidez o panorama remoto? Interpretação de (falta de) sinais nunca foi o meu forte, por isso não costumo decretar fins. Não são essas palavras que procuro pelo caminho. Decreto. Fim. Decreto é muito rígido e fim… definitivo. Talvez prefira nomear como deixar a porta aberta, mas assim já não controlo as entradas nem saídas. E me pergunto, constantemente, que peça me falta para diferenciar fim de intervalo, se um hiato também não é um final antes de um recomeço. Como se fosse minimamente possível garantir que é isso e não aquilo. Como se fosse previsível. Como se fosse linear.

Penso sobre o que acontece quando colocamos um simples prefixo antes da palavra encontro. Encontros, des-encontros, re-encontros. Nem sempre as coisas acontecem nessa ordem. Nem sempre passamos por todos os estágios. Às vezes um deles pode ficar acontecendo durante muito mais tempo. E fim, afinal, é para sempre? Não me sobram alternativas para descobrir a não ser

esperar?

Até quando? Até que ponto? O que eu espero? E eu acredito no que eu espero?

Me vejo num corredor com fileiras de portas fechadas que não quero forçar. Se bater, pode ser que alguém abra. Pode ser que finjam vazio. Pode ser que esteja vazio mesmo. Pensar “e se” me diz que existem chances. O silêncio me confessa que ele também fala. E que talvez esteja tudo bem na minha frente.

Esperancice crônica tem lá suas desvantagens. Não saber a hora de me retirar. Cansei de ter que esperar que alguém me diga

que a festa acabou
e acendam as luzes
que recolham as mesas
e as vassouras apaguem os rastros
que me coloquem para fora
e fechem a porta
bem
na minha
cara

No fundo eu sei, não tem como. Ser em expansão e tentar caber em outras caixas. A caixa do se contentar com o mínimo, de se entregar pela metade, de se encantar pelo pedaço lascado e da migalha que sobrou. A caixa do sentir por dois e dizer que isso basta. Ainda tem gente que vai entender quando eu digo

Cansei de me colocar em lugares pequenos.

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Isabela Jayme

experimentadora criativa. leitora entusiasta. expressadora artística. registradora de memórias. roteirista de viagens. testando escritas múltiplas.