não destino

Isabela Jayme
1 min readNov 30, 2020

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a urgência da escrita se mostra
pelo garrancho quase ilegível
no pedaço de papel mais próximo
nas emoções hemorrágicas
dos cortes profundos
nos abismos que separam
as esperas de ontem
e os não destinos de amanhã

encontros que tão cedo
já viraram desencontros
o tempo não para e nem espera
que nossos próprios tempos se alinhem
e talvez nunca se alinhassem mesmo
eu sabia que existia um risco
da desconexão explícita
só não sabia que seria tão cedo

foi aí que me dei conta
que nunca quis ver o castelo
que já tinha construído e mobiliado
descobri no instante ínfimo
em que tudo virou ruína
me diz o que eu faço agora
com essa pilha de entulho
sem destino reciclável

o que a gente faz
com aquilo que não começa
com o desejo não feito
a ferida aberta, nua, escancarada
afogada na água salgada do mar
para ver se cura na ardência
eu sei que a cicatriz fica
mas a ferida uma hora fecha

quem sabe deixar a dor incendiar por hoje
não faz o sonho voltar logo ao que era
delírio apenas
não destino

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Isabela Jayme

experimentadora criativa. leitora entusiasta. expressadora artística. registradora de memórias. roteirista de viagens. testando escritas múltiplas.